Faltava um dia para Helena sair de férias e embarcar numa aventura com sua amiga. Sabia que estava fazendo a coisa certa, pelo menos era o que acreditava ser esse o papel de uma amiga.
Otávia tinha pedido demissão e com o valor da rescisão ia investir num espaço para abrir a sua tão sonhada confeitaria, então Helena se prontificou a ajudar a amiga durante as suas férias.
Enquanto Otávia cuidava da parte burocrática e aguardava a confirmação por parte do responsável pelo aluguel da sala. Fazia alguns bolos para Helena vender em frente a sua futura loja, assim já ia divulgando e ela tinha habilidade para falar com o público.
No dia seguinte lá estava Helena, tocando no interfone da casa da amiga. Pegou uma mesa pequena de madeira que Otávia comprou para ela, totalmente desmontável, os bolos e as térmicas de café e chá e saiu. Mas antes Otávia lhe deu um abraço forte em agradecimento.
— Olá, bom dia, gostaria de provar um bolo? — E assim ela foi abordando as pessoas que transitavam na rua, um a um.
— Vou querer uma fatia do bolo de chocolate e um copo de chá. Dá quanto, moça?
— É 10 reais.
Helena era cordial e simpática com as pessoas, tinha trabalhado com atendimento ao público durante doze anos. Agora que estava ajudando uma amiga a conquistar seu sonho, a empolgação e alegria era ainda maior.
Reparou que perto de onde ela ficava com a banquinha tinha uma gráfica. Foi então que teve uma ideia, como gostava de criar artes, confeccionou cartões de visita e enviou para o e-mail da gráfica e no intervalo do almoço buscou.
Agora ela passou a entregar os cartões de visita para cada uma das pessoas que passavam por ela na calçada. Todos estavam sendo informados de que em breve abriria ali, uma confeitaria maravilhosa.
A rua é um ambiente surpreendente. Em poucos dias de trabalho, reparou na rotina de algumas pessoas e o quanto isso começou a interferir na sua, através desse convívio. A Judite, gari que chegava antes dela e deixava a calçada limpa. A dona Simone que ia sempre no mesmo horário para o supermercado.
— Bom dia Judite, aceita um bolinho com café? Aproveita que eu passei a recém, tá fresquinho.
— Ah, então vou querer esse café. — disse sorrindo.
— Bom dia Cacau, hoje tu saiu mais cedo. — Sorria para o cão da raça Bernese.
— Pede a patinha que hoje ele vai te dar. — e assim ela fez. A patinha era do tamanho da sua mão.
— Bom dia, minha querida, tudo bem? — parou Simone em frente a banquinha olhando para os bolos e continuou — Bah adoraria comprar um pedaço de bolo, mas te contei que tenho diabetes?
— Contou sim, dona Simone e a senhora como tá hoje?
— Não to nos melhores dias, sabe? — Quando Helena perguntou o motivo, ela prosseguiu. — Ah, é a pressão, fui até a farmácia e a moça disse que tava alta.
— A senhora precisa comprar o aparelho para verificar sua pressão em casa.
— Pois é, quando a minha filha vier me visitar, vou pedir para ela comprar. Ela vem almoçar comigo mês que vem.
— Olá Dadá, nossa aonde a senhora vai toda bonita?
— Onde eu vou todos os dias às 16h, na igreja. — risos — mas depois combinei de tomar um café com uma amiga.
— Que legal, gostei. Sempre é bom sair com uma amiga, né?
— Ô se é. Tu conhece o Cheirin Bão? Sabe se é bom lá?
— Sim, é um excelente café, vocês vão gostar. Só perde pro meu. — as duas riram.
— Moça, preciso ir até a rua Fernandes Vieira, tu sabe me explicar pra que lado fica?
— Claro, é seguindo nesta direção, sempre reto, na quarta quadra, o senhor vira a direita, é essa a rua.
— Muito obrigado. Deus lhe abençoe.
— Olá, seu José, tudo bem com o senhor? Aceita um pedaço de bolo e um copo de café? — disse ela já servindo o café.
— Muito obrigado, moça. Nessa cidade ninguém olha para morador de rua. Esquecem que somos gente por andar mal arrumado, nos confundem até com assaltante.
— Eu imagino.
— Sabe que um político me abordou esses dias, queria o meu voto. Mas olhei firme nos olhos dele e disse que jamais votaria em quem despreza os pobres.
— E o que ele respondeu?
— Nada, fez o que todos fazem, deu as costas e seguiu apertando a mão de quem cruzasse o caminho dele. Todo sorridente, cheio de dentes e eu aqui banguela.
Às vezes Helena ficava com o olhar perdido no horizonte, refletindo sobre a ausência de cuidados, a carência e vulnerabilidade a qual algumas pessoas, principalmente os idosos, se encontravam. A população vinha prolongando seus anos de vida, mas o que a sociedade tem proporcionado para essa camada da população?
Os jovens cresceram com a tecnologia na palma da mão, mas lhes falta o olho no olho, o diálogo e principalmente apreciar as coisas boas da vida. Onde eles estão enquanto os avós envelhecem nos seus apartamentos isolados?
A reforma da loja estava praticamente finalizada e Otávia vinha acompanhando tudo de perto, pois queria garantir que tudo ficaria do jeito que ela esperava. Encostada do lado de fora do estabelecimento, percebia o quanto a amiga estava feliz, ficou surpresa ao presenciar uma desconhecida lhe dando um abraço. Sentia que era exatamente aquele sentimento que gostaria de passar para quem frequentasse a sua confeitaria.
Helena sabia que logo teria que voltar para o seu emprego, esses vinte dias de férias passaram rápido demais. Inclusive seus novos amigos disseram isso e sentiriam a sua falta. Ganhou vários abraços ao mencionar que aquele seria seu último dia ali naquela rua e logo sua amiga estaria com o estabelecimento funcionando.
Passou uma semana, ela já estava novamente em frente ao seu computador, diante das inúmeras planilhas, quando sentiu o celular vibrar. Ao olhar para a tela, viu a notificação de uma nova mensagem, era Otávia. Abriu a conversa do whatsapp e se deparou com uma foto, nela estava sua amiga acompanhada dos amigos que Helena havia feito na rua.
Você já vivenciou algo parecido com o que a personagem Helena viveu?
O que estou assistindo no momento:
Meia-Noite no Hotel Pera Palace (Netflix) - ano 2022 - Nota 7,0 no IMDb.
Nessa série iremos acompanhar a história de Esra (Hazal Kaya), uma jornalista enfrentando problemas no trabalho, que é designada para escrever uma matéria sobre o Hotel Pera Palace, de Istambul.
Inaugurado em 1895, o hotel recebeu hóspedes ilustres, como Agatha Christie, e presenciou diversos acontecimentos históricos, que mudaram o mundo e a própria Turquia. Apenas assistam, eu tô adorando!
O que estou escrevendo:
Coletânea Halloween - O lançamento do meu conto, Ruby: poder em ascensão será amanhã 15/10. Então em breve estará disponível na Amazon e gratuito no Kindle Unlimited.
Esse é o meu primeiro conto de suspense, então conto com a sua leitura e avaliação, pois sua opinião é muito importante pra mim!
Ah, a diferença que uma conversa atenta, interessada e presente faz no dia de alguém 🩷
Sou recem chegada no Sustrack. estou amando! Parabéns