Encontrei outro dia uma mulher na faixa dos seus 40 anos, no parque empurrando um carrinho de bebê com tanta dedicação que até me sensibilizei. Chegando mais perto pude perceber que o bebê tinha olhos vítreos e era quieto demais. Não mexia um músculo. Nenhum suspiro. Era um desses bebês hiper-realistas, elaborados para parecer gente de verdade, mas que não têm alma, ele é composto apenas de silicone e uma tinta especial.
Pensei: “Que coisa mais bizarra.” Foi então que a mulher tirou o celular do bolso, apertou um botão e falou com a maior naturalidade:
— Cecília, diga oi pra moça.
E o bebê, numa fração de segundos, virou o rostinho na minha direção e disse com voz robótica, porém educada:
— Oi, moça. Você sabe qual é a senha do Wi-Fi?
Fiquei paralisada, incrédula e com uma enorme vontade de rir. Aquilo não era só uma boneca: era uma boneca com inteligência artificial. Um bebê que conversava, sabia seu nome, imitava choro, fazia perguntas e talvez até lembrasse o horário de você tomar os remédios.
A cena, que poderia ser só bizarra e engraçada, me bateu como uma pedrada revestida de plástico. Tamanha solidão em que aquela mulher se encontrava. Sozinha de um jeito que nem um cachorro, gato ou outro pet, nem mesmo os filhos de carne e osso conseguiram preencher esse vazio. Precisou de uma boneca. Um gesto de cuidar deslocado da presença real de um outro.
Tem algo profundamente trágico nisso.
Vivemos numa era em que as tecnologias prometem nos conectar, mas o que mais vemos são pessoas isoladas, buscando vínculos em simulações. Conversamos com assistentes virtuais mais do que com os nossos vizinhos. Recebemos conselhos do chatgpt, mas evitamos contar como estamos de verdade para quem nos ama, ou pela ideia de parecer fraqueza, ou por saber que o outro também está atolado no seu próprio vazio.
É curioso, criamos máquinas para preencher buracos que a própria sociedade cava. Bebês que não sentem, não crescem e não respondem. Amigos que moram dentro de telas. Relacionamentos com prazo de validade e robôs com garantia estendida.
E é claro que o mercado agradece. A solidão virou um nicho. Tem aplicativo para quem quer companhia para jantar, outro para ouvir você dormir. E agora temos bonecas com IA que por uma mensalidade módica, dizem “eu te amo” e te chamam de mãe.
Mas será que estamos nos enganando bonito ou nos salvando do colapso?
Enquanto pensava nisso, a mãe ajeitou a mantinha da bebê reborn com um carinho que me apertou o peito. E antes de ir embora, ainda me disse sorrindo:
— Ela é tão quietinha… Nunca me dá trabalho.
O amor verdadeiro às vezes vem com cólicas, birras e noites sem dormir. Mas também vem com vida. E a vida, ultimamente, parece ser o que mais nos assusta!
O que estou vendo:
Ultimamente estou assistindo a série The Last of Us e me perguntando onde eu estava até o momento que não vi antes? Ah, já sei, precisava assinar mais um streaming hehehe. Recomendo muito, mas leia sobre antes de começar a assistir!
O que estou lendo:
Comecei a ler neste final de semana frio em Porto Alegre, o livro “Adultos” da autora Marian Keyes (comprei esse livro ano passado num sebo) aliás, ela é uma das minhas favoritas desde os meus vinte poucos anos ehhehe. Então é sempre uma nostalgia muito grande ler seus livros.
Uma excelente semana para você!
Nos vemos em alguma segunda-feira!
Com carinho,
Clarissa Grendene.
Lembrei do sujeito que bateu em um até perceber que era um bebê de verdade. rs
Amiga, amei o texto ❤️ to aqui refletindo sobre algumas palavras específicas que quase me deram um tapa na cara virtual...